Mulheres no Futebol - Entrevista com Sílvia Fattori

07 MAI 2018 00:00

Atleta da equipe feminina do Grêmio Football Porto-Alegrense na década de 80, Silvia Fattori chegou ao clube aos 20 anos e quando, dois anos depois, o Departamento de Futebol Feminino fechou, ela e as outras atletas viram-se sem time. Foi então que, numa reunião na casa de Márcia Macalão e Marianita Nascimento, no dia 23 de novembro de 1984, foi criado o Independente Futebol Clube, equipe feminina de campo e salão. O uniforme azul, vermelho e branco ainda é guardado com carinho por Sílvia, que presidiu o clube por 10 anos. “O futebol de campo terminou primeiro, mas o departamento de salão ficou até 1994”, recorda a ex-atleta e dirigente, enfatizando que “o Independente Futebol Clube, era, ou ainda é, não posso afirmar, o único time exclusivamente de futebol feminino filiado à Federação Gaúcha de Futebol e com Alvará do Conselho Regional de Desportos 

do RS”.

O Independente era uma equipe nova, formada por jogadoras jovens, lembra Sílvia. “Tínhamos um plantel muito bom, com ótimas jogadoras, como a Bel, ex-Inter; Salete, Kete e Geni, ex-Esportivo de Bento Gonçalves; Silvia, Marianita, Neisa, Lacy, Lili, Verinha, Aninha Gasparoto e Marcinha, ex-Inter de Santa Maria”, essa foi a primeira formação do Independente, conta Silvia. Com o passar do tempo, outras atletas integraram o plantel como Silvia Guaíba, Silvia Rangel, Fiapo, Cebolinha, Le, Laurelise, Yolanda, Adriana, Marinilsa, entre outras. E não havia patrocinador... as gurias faziam rifas, vaquinhas, enfim, tudo para que pudessem jogar. Silvia diz que todas as meninas trabalhavam, muitas estudavam, “ninguém vivia do futebol, pagávamos para jogar”. Ela cursava Administração de Empresas na Universidade do Vale do Rio do Sinos – Unisinos, e seguiu essa carreira após largar o futebol, enquanto a maioria daquele grupo trabalhou com Educação Física. “Ainda nos encontramos, não para jogar, mas para dar boas risadas e lembrar dos bons tempos”, diz.

TRAJETÓRIA DO INDEPENDENTE

A equipe participou, ao longo dos anos, de vários campeonatos, torneios de campo e futsal, praiano e disputou o II Campeonato Brasileiro em Santa Catarina. Ela conta que o time foi convidado a participar do campeonato de Seleções Femininas de Futebol Nacional, em Campinas, São Paulo, ficando em segundo lugar, perdendo para o Juventus. O Independente também jogou, a convite do Club Social y Deportivo Yupanqui, de Buenos Aires, em junho de 1991, num festival futebolístico, também ficando em segundo lugar.

Como a sede do clube era no apartamento de Silvia, os treinamentos tinham que ser em local público. O Independente treinava aos sábados à tarde nos campos de areão do Parque Marinha Brasil e tinha um treinador “que fazia o trabalho por amor”. Pergunto da infraestrutura de saúde para as atletas... Silvia diz que havia médico quando eram jogadoras do Grêmio, mas que, no novo clube, havia apenas uma maleta de primeiros socorros.

Ela diz que ainda espera que o futebol feminino cresça no Brasil e vê com bons olhos a obrigatoriedade da Conmebol para que os clubes que vão disputar a Copa Libertadores a partir de 2019 tenham equipes femininas, mas que ainda há muito para acontecer. “Deveria ser obrigatório todos times no Brasil terem uma equipe feminina e campeonatos paralelos ao masculino”, defende Silvia.

Izabel Rachelle 

Foto: Arquivo Pessoal